Cerâmica Pareidólia

Tatiana Ferreira x Miaskin


PT/EN

Olá Tatiana, podes nos falar um pouco sobre ti e o teu background?

No geral sou uma pessoa muito curiosa e persistente. Pronto, podia terminar por aqui e isto era a Bio mais curta da história ahahah! Venho de um background de Artes e acabei por enveredar pelo caminho da Arquitectura de Interiores, onde me especializei em Reabilitação do Edificado. Durante alguns anos desenvolvi o meu trabalho nesta área e rapidamente percebi a sua versatilidade e beleza.

Tive o meu primeiro contacto com a cerâmica ainda na época do Liceu, onde fiz uma formação continua de vários anos e onde tive o privilégio de poder estar em contacto com muitas áreas artísticas e plásticas para além da cerâmica, como a serigrafia, azulejaria e tapeçaria. Era um Liceu especial...e tenho muitas saudades desse tempo! Acho que foi aqui que a semente da vontade de saber mais e de continuar a explorar as características do barro foi plantada.

Há 6 anos vim viver para o bairro da Ajuda onde aluguei um pequeno atelier onde antes funcionava uma antiga ourivesaria e aí tenho permanecido e desenvolvido os meus dois projectos – A cerâmica Pareidólia e A-Loja, que foi o nome que dei ao atelier e é onde dou workshops e formações em cerâmica e Gravura.

Como é que foi a tua infância e que influências sentes que tiveste para seguir o percurso que seguiste?

Venho de uma família muito criativa, carismática e onde a imagem e força femininas sempre estiveram presentes. Tenho muitas recordações que envolvem a minha avó paterna, que sempre foi uma mulher muito ‘contemporânea’ na sua forma de estar e muita divertida, a mascarar-se para o Carnaval em frente ao espelho ou a dançar ao som do Bonga na sala de estar! Tenho muitas recordações do meu pai, que era artista plástico e designer gráfico, a passar horas sentado no sofá a esboçar sempre qualquer coisa. A música também era uma constante na minha casa, a toda a hora.

Nessas alturas lembro-me de sentir um verdadeiro sentimento de pertença, que nasci naquela família e não podia ter nascido noutra ahaha. Acho que esta imensidão de estimulos e curiosidade por tudo, que sempre foi comum a todos os membros da minha familia, não me podia ter levado para outro caminho senão este, onde estou.

Arquitectura, como surgiu?

Em criança queria ser uma coisa diferente todas as semanas , mas tive sempre mais inclinação para Arqueologia, acho que tinha uma ideia muito romântica do que era ser arqueóloga, das escavações e do mistério envolvido até se encontrar alguma coisa. Entretanto o meu pai tinha uma pequena frustração na vida, ligada ao facto de não se ter formado em Arquitectura. Acabou por, sem querer, depositar essa expectativa em mim. Fui também um pouco atrás dos meus amigos e na altura acabei por optar pela Arquitectura.

Quando surgiu A-Loja?

A-Loja surgiu há 6 anos, precisamente um ano depois de ter começado a viver na Ajuda. espaço era uma antiga Ourivesaria da avó de uma vizinha aqui do bairro e esteve fechada muitos anos. Quando alugámos o espaço, ainda tinha muitas coisas da antiga ourivesaria, senti-me um bocado arqueóloga nos meses em que fizemos as remodelações ahahah!

O Universo da cerâmica era inevitável? Fala-nos da Pareidólia…

Quando estava no Liceu inscrevi-me num curso intensivo, um género de actividades extra curriculares, que durou alguns anos enquanto estava a estudar Artes. As professoras que coordenavam o curso eram muito especiais e pró activas. Deram-me muitas possibilidades de poder estar em contacto diário com imensas técnicas, como a cerâmica. Nessa altura explorei muito. Passei pela técnica do Fusing onde fazíamos peças em vidro que fundia a altas temperaturas, pintura em azulejo e moldes para cerâmica. Acabei por simpatizar mais com a cerâmica, acho que era mesmo inevitável!

A ideia de desenvolver uma marca de cerâmica surgiu em Dezembro de 2021. Na altura ainda trabalhava a fazer frente de sala num Museu de Arte Moderna e Contemporânea e fui sentindo que precisava de mudar drasticamente de vida. Já fazia cerâmica como hobby e foi em Janeiro de 2022 que decidi levar a sério o que até então era um esboço.

Escolher um nome foi quase imediato. A palavra e o fenómeno da Pareidólia fizeram logo muito sentido para mim tendo em conta o meu processo criativo que passa muito por desenvolver peças que aparentam ser sempre outra coisa qualquer. Ou que começam a ser uma coisa e acabam a ser outra!

Como são os teus dias no ateliê? Tens uma rotina específica?

Eu sou uma pessoa que precisa muito de rotinas porque disperso facilmente e ainda mais quando o meu trabalho depende só de mim, neste momento. Tento sempre iniciar e terminar os dias à mesma hora. E sou a mulher das listas e blocos de notas! Apesar dos meus dias serem muito diferentes, porque quando se trabalha por conta prória e numa fase inicial, temos de estar em todas as frentes e por isso ter rotina é algo essencial e importante para mim.

Sempre te sentiste bem na tua pele?

Durante muitos anos não. Tive muitas fases de grande inconstância no que respeita a estar à vontade com o meu corpo. Passei por períodos difícieis na adolescência com o acne e algum excesso de peso. Com o passar dos anos acabei por desenvolver muito mais a capacidade de gostar do que vejo quando me olho ao espelho, e isso tem mais a ver com o ter trabalhado a parte da inteligência emocional de uma forma mais profunda.

O que é que é fundamental para que te sintas bem?

Para mim é essencial e muito importante estar rodeada das minhas pessoas, família e amigos. Viver em clã, poder partilhar o que sinto e como sinto, sempre que tenho necessidade. Sentir-me apoiada e não me sentir só. Isso foi imperativo neste último ano por exemplo, quando decidi que queria trabalhar por conta própria e desenvolver os meus projectos. Porque ansiedade e medo caminham sempre de mãos dadas, mas se tivermos pessoas ao nosso lado com quem partilhar estas questões, fica tudo mais fácil.

A Natureza é importante na tua vida?

Muito. Acho que para todos nós. Não só pelo facto de me sentir mais presente quando estou rodeada por natureza, mas também porque tiro muito conhecimento e prazer quando a observo, há sempre alguma coisa emocionante a acontecer quando obervamos com mais atenção.

Quando falamos em beleza em que é que pensas?

Beleza para mim é um aglomerado de coisas diversas. O que faz algo ser belo é uma equação complexa. Muitas vezes encontro beleza na surpresa ou na diferença!

O que é que mais gostas na Miaskin?

Gostei muito do facto de ser uma rotina nada complicada. Aplicas somente dois produtos que são super eficazes e com ingredientes sem nomes estranhos e fáceis de pronunciar porque realmente sabes o que são.

Em relação ao creme e ao Serum, não podia ter tido uma experiência mais completa!

A minha pele é muito sensível e tendo pele mista, muitas vezes não é fácil encontrar um creme que satisfaça as minhas necessidades.

Desde o momento em que aplicas e sentes o cheirinho a erva príncipe que te transmite uma sensação de tranquilidade, até à textura super fluída e nada gordurosa.

Qual é a tua maior inspiração?

Acho que não tenho uma inspiração específica. Todos os dias cruzo-me com pessoas ou acontecimentos que mais tarde percebo que foram uma inspiração para qualquer coisa relacionada com o meu processo criativo ou como construção do que sou. Mas no geral posso dizer que me inspiro muito e todos os dias nas mulheres que fazem parte da minha vida: na capacidade de reivenção perante adversidades da minha mãe, na força, tenacidade e carácter persistente da minha avó materna e na super inteligência emocional da minha irmã.

E, para terminar, fala-nos dos projectos que tens agora e o que acontecer a seguir :)

Neste momento estou bastante focada na Pareidólia e n`A-Loja. São dois projectos que apesar de terem identidades distintas, andam de mãos dadas e vão-se cruzando, como se fossem duas personalidades da mesma pessoa. O último ano foi o ano embrionário, principalmente para a Pareidólia. Foi o ano de perceber que linguagem queria estabelecer e para onde quero caminhar.

Hoje em dia já tenho mais certezas e confiança. Para 2023 já tenho alguns projectos e colaborações que estão prestes a concretizar-se e estou a abraçar tudo isto com muito entusiasmo (e algum nervosismo...!) envolve Feiras e exposições já para Março. Depois é colher os frutos e continuar a caminhar com poucas certezas mas muita convicção e vontade :)

Fotografia: Rui Gaiola

Previous
Previous

Next
Next

Let's celebrate women every day, especially today.